A rede estadual conta com profissionais exemplares trabalhando em diversas perspectivas da aprendizagem

FOTO: Euzivaldo Queiroz / Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar
Celebrado nesta quarta-feira (15/10), o Dia do Professor é mais uma oportunidade de destacar atuações e histórias marcantes dos profissionais da rede estadual de ensino. Sonhos, projeções, realizações, batalhas e conquistas norteiam e traduzem a vida destes profissionais que transformam a sala de aula em espaços de disseminação de cultura, pensamento crítico, cidadania e respeito. Hoje, a profissão será explicada por essas vozes de protagonismo educacional.
Há 51 anos, a professora Cacilda Siqueira atua como professora na rede estadual de ensino. Atualmente docente na Escola Estadual (EE) Duque de Caxias, ela ministra a disciplina de Língua Portuguesa e Matemática para alunos do 4º e 5º ano do Ensino Fundamental I.
O “tempo de casa”, de acordo com a professora, fortalece cada vez mais suas convicções enquanto profissional. As mudanças causadas pelas diferentes gerações, ferramentas, metodologias e grades curriculares sempre fortaleceram o desejo de Cacilda em seguir evoluindo.

FOTO: Euzivaldo Queiroz / Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar
“Me sinto realizada. A aprendizagem molda a forma com que eles (alunos) enxergam o mundo, e poder contribuir com esse processo é gratificante. São muitos anos me dedicando de corpo e alma, é um sentimento de nobreza”, compartilhou a profissional.
Conexão norte-nordeste
Natural de Serra Talhada (PE), Socorro Lima é outra voz que ecoa em prol da docência. Mas nem sempre foi assim. Interiorana, o sonho da professora de Língua Portuguesa era, na realidade, se formar em medicina. Um objetivo longínquo, tendo em vista que para isso, seria necessário abandonar suas raízes e partir para Recife, a capital do estado.
O destino de Socorro, realmente, era bem distante do pequeno município pernambucano que, em 1994, era lar de cerca de 75 mil pessoas. Foi nessa época que a professora decidiu trocar um interior por outro e, após o convite de uma amiga, veio parar em Presidente Figueiredo (distante 117 quilômetros de Manaus). Mais especificamente, veio para ser docente na Escola Estadual Maria Calderaro, de onde nunca mais saiu e, desde então, são 31 anos de rede estadual amazonense.
Em Serra Talhada, largou tudo. Cargo público, estabilidade, família. Tudo em troca de um desejo intrínseco de lecionar no coração da Amazônia, região que sempre rondou o seu imaginário.
“Eu era criança e escrevia poemas sobre o verde, sobre a vitória-régia, sobre coisas que eu nunca tinha visto, apenas lido. Quando tive a oportunidade de vivenciar, não pensei duas vezes. Ser professora em Presidente Figueiredo é estar completa. É a junção de duas paixões, de propósitos de vida”, destacou Socorro.
O lirismo da infância de Socorro amadureceu em práticas pedagógicas exitosas, e transformou-se em legado na Escola Estadual Maria Calderaro. Lá, a professora trabalha misturando temas amazônicos à intertextualidade, promovendo o incentivo à leitura, à produção de textos, ao desenvolvimento da oralidade e também ao treinamento de redações para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
“Tento implementar na cabeça dos meus alunos a importância da Educação para além dos muros da escola, para o Ensino Superior. Acho que esse é o papel do professor. Ele representa um ponto de orientação no destino de alguém. Isso, para além de potente, representa muita responsabilidade”, ressaltou a docente.
Docência que vem de berço
Apesar de ser filha de professores de matemática com mais de 30 anos de atuação na rede estadual de educação, a professora de Química, Jaciara Lira, ainda tentou, por um momento, seguir uma carreira diferente da docência. Realizou cursos técnicos, trabalhos em empresas privadas, mas foi o contato com o laboratório que fez aflorar um sonho antigo, contido, de trabalhar com o mundo das Ciências da Natureza dentro de uma sala de aula.

FOTO: Euzivaldo Queiroz / Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar
O velho-novo horizonte recapitulou memórias antigas de quando, ainda na época de escola, foi aluna dos próprios pais. As posturas de cobrança, de responsabilidade com os estudos, de didáticas pedagógicas exitosas, são hoje as referências de um destino selado desde o ventre pela própria família, e ressoam na própria atuação profissional de Jaciara, que trabalha no Instituto de Educação do Amazonas (IEA).
“Nossa carreira enquanto docente é uma grande mistura daquilo em que somos bons, com aquilo que gostamos de fazer, e mais aquilo que é necessário, o que todos precisam. Nosso trabalho é equilibrar esses três elos para que eles sejam cada vez mais convergentes. Ser professora é um alento”, enfatizou Jaciara.
Espaços conquistados, não concedidos
Há cinco anos, o título de professora conquistado pela docente Leidenice Pereira pavimenta a subversão completa de uma violência sofrida ainda na infância pela docente, e traz autoestima e dignidade para quem, em certo momento na vida, deixou de acreditar que era capaz de conhecer algo para si, quiçá ensinar para os outros.

FOTO: Euzivaldo Queiroz / Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar
Leidenice tinha apenas seis anos de idade quando foi vítima de ofensas racistas vindo de quem deveria exercer o papel de educador. O rasgo deixado pela ferida da ofensa racista não se curou com o tempo, e Leidenice desistiu de estudar ainda no 6º ano do Ensino Fundamental.
Porém, apesar de estar fora da escola, o amor de Leidenice pela leitura se manteve vivo, e, assim, a fagulha da educação manteve-se acesa em sua vida. Uma luz que, logo mais, mudaria toda a sua trajetória.
“Passei por vários subempregos, buscando a sobrevivência. Em uma dessas situações, fui doméstica na casa de uma contadora, que um dia, me viu lendo o livro ‘A Dama das Camélias’, de um escritor francês. Ela me perguntou se eu conseguia entender a obra, respondi que sim. Depois disso, ela me matriculou no concurso da Secretaria de Educação para o cargo de merendeira, lá em 2003. Fiz e passei”, compartilhou Leidenice.
Esse foi o início de uma história de retomada. A Escola Estadual Profª Bernardete do Socorro Trindade da Rocha, seu novo lar profissional, foi o espaço de encontros que mudaram a vida de Leidenice para sempre. Na unidade de ensino, foi encorajada a retomar os estudos, posteriormente concluídos a partir do Provão da Educação de Jovens e Adultos (EJA), dentro da Secretaria de Educação.
A escalada seguiu até a universidade pública. De acordo com Leidenice, um curso de alimentação escolar da Secretaria de Educação a fez perceber que ela “gostava sim de estudar”, e, a partir disso, o desejo de entrar no Ensino Superior se transformou em ação. Leidenice realizou o Enem, e, em 2011, passou na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) para o curso de Letras e Língua Portuguesa.
“Para mim, ser professora é um sentimento de dever cumprido. É uma vitória pessoal. A minha atuação enquanto docente tem como princípios norteadores a empatia, o aprimoramento de conhecimento e respeito pelas diferenças, sejam elas quais forem. É fazer o oposto do que fizeram comigo lá na infância. A educação não pode ser negada nunca para ninguém. Não me imagino em nenhum outro lugar”, finalizou Leidinice, que leciona na Escola Estadual Professor Rofran Belchior da Silva.